2023: o ano em que a diversidade marcou a literatura infantil
Por Júlia Moritz Schwarcz
Mais um ano passou, as mensagens de feliz 2024 já começam a encher as nossas caixas de e-mail, e passamos a olhar para trás e pensar nesses doze meses cheios de livros e toda a alegria que eles proporcionaram e continuarão a proporcionar.
Este foi um ano em que a diversidade começou subindo a rampa em Brasília e não saiu mais do topo. Se por um lado essa discussão teve início lá atrás, e na verdade está dada desde sempre, no mundo da literatura ela ofereceu, nesse ano que vai passando, muitos bons passos. Não é o caso de ingenuamente afirmar que os livros de autoria e temática negra, indígena, sobre pessoas com deficiência, LBTQIAP+ e de outras minorias ganharam o lugar que merecem. Ainda não chegamos lá! – mas vimos muitos títulos que se referem ou homenageiam a diversidade sendo lançados e, acima de tudo, sendo consumidos em abundância.
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Um bom exemplo foi o fenômeno que vivemos na Bienal do Livro, que aconteceu este ano no Rio de Janeiro. No topo da nossa lista de mais vendidos estavam principalmente os livros que falam de diversidade, e que tratam do tema de maneira afirmativa e propositiva. Em geral discorrem sobre a beleza da diversidade, mostrando um mundo mais colorido e feliz. Nessa linguagem, mais é uma palavra muito significativa, pois se refere a pontos importantes: mais direitos, mais experiências e mais diferenças para aprender e conviver. É claro que não faltaram os livros clássicos e de temáticas variadas, que também emocionam, justamente por conta da multiplicidade de assuntos e abordagens que propõe e alcançam.
Esse movimento é tão bonito porque vai de encontro a uma importante característica da literatura, a de ser sempre contra hegemônica, no sentido de que as histórias contemplam universos os mais diversos e por isso nos convidam a repensar o mundo a partir de várias perspectivas, sempre abrindo espaço para a existência de alteridade: a capacidade que temos de nos modificar a partir da vivência alheia e dos olhos dos outros. Através dos livros infantis, os leitores vivem todo tipo de experiência e sentimento, conhecem novas formas de enxergar a realidade à sua volta, expandem seus horizontes, entram em contato com o diferente, aprendendo sempre com ele.
A literatura infantil é a porta de entrada para o mundo da literatura, esse lugar da fantasia, a principal linguagem da criança, que experimenta e entende o mundo brincando de faz-de-conta.
Por isso é fundamental pensar no livro, na leitura e no acesso à informação e conhecimento como bens públicos comuns e acessíveis para todos. Um direito que precisamos sempre conquistar. E o fato de apresentarem contextos os mais diversos possíveis, como felizmente vemos acontecer cada vez mais, só pode ser um índice de nosso crescimento como pessoas e como cidadãos.
Produzir um livro é sempre fruto de uma relação de amor com os leitores, por isso neste finzinho do segundo tempo gostaria, acima de tudo, de celebrar os marcos especiais que os nossos autores alcançaram em 2023. Viva a literatura infantil, viva, viva a diversidade.
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Júlia Moritz Schwarcz é publisher dos selos infantojuvenis da Companhia das Letras