Folclore e cultura: cinco curiosidades e um livro premiado sobre o Saci

Originalmente publicado no Blog da Brinque
Em resumo Um dos principais personagens da tradição oral brasileira, o Saci é de origem indígena, tem influências afro e portuguesa, chegou aos países vizinhos e à música de Villa-Lobos No dia 31 de outubro, o Brasil comemora o Saci. Personagem mais popular e forte do nosso folclore e dos contos de tradição popular, o Saci - também conhecido como Saci-Pererê, Matim-Pererê, Matita Perê e Matintapereira - é um menino travesso, que diverte-se fazendo traquinagens. Nasce em brotos de bambu, onde vive por sete anos. Depois, fora dos brotos, vive por mais 77. Segundo a lenda, ele vem em (e causa) redemoinhos, gosta de espantar animais e emaranhar a crina dos cavalos, assobia para assustar e confundir os viajantes e, dentro das casas, queima a comida, azeda o que já está pronto, troca açúcar pelo sal... Sua lenda espalhou-se pelo Brasil, juntou influência indígena, portuguesa e africana e chegou até a América do Sul, onde há a figura do Yaci-Yateré,  cuja história e cujos poderes atribuídos a ele são um pouco diferentes do nosso Saci e mudam de país para país. Saci nos inspirou a pesquisar a lista abaixo, que revela um "cadinho" a mais sobre o menino que fuma cachimbo, protege as matas e domina os pés-de-vento.

5 curiosidades pra lá de curiosas sobre o Saci

[caption id="attachment_5098" align="aligncenter" width="450"] O Boto, personagem de "Quem matou o saci?" / Alexandre de Castro Gomes (texto) e Cris Alhadeff (ilustrações)[/caption]

1) Lenda indígena

A origem do Saci é, muito provavelmente, uma lenda indígena do sul do Brasil, da época do Brasil Colônia, entre o final do século XVIII e o começo do XIX. O nome "saci" é guarani e corresponde a um pássaro. Interessante dizer que Saci não é uma única criatura, mas o nome de um grupo, de uma classe: há vários sacis floresta adentro.

2) Gorro português e um pé na África

Como um bom brasileiro, o Saci tem um pé na aldeia, outro na África e um dedo em Portugal. De lá de além-mar vem, mais especificamente, seu gorro vermelho. Estudiosos acreditam que o gorro -- que carrega seus poderes mágicos -- tem origem no trasgo português, uma lenda da região de Trás-os-Montes, que fala de um pequeno ser da floresta tão travesso quanto o nosso. Já o pé que falta ao saci, dizem, ele perdeu numa luta de capoeira, herança da cultura e da leitura afro, incorporada à lenda.

3) Guardião da floresta

Na lenda, o Saci é perito em chás, ervas, infusões e cura pelas plantas. Por isso, é tido como guardião das florestas, especialmente das plantas. Nasce do broto de um bambu e domina a floresta, conhece seus meandros e defende os seres que nela habitam. Essa característica faz dele parecido com outros seres fantásticos da mitologia popular, como a caipora (do centro-oeste) e o matintaperera (do norte).

4) Monteiro Lobato e seu Saci

As histórias do Saci são típicas do Sul e do Sudeste e bem fortes nessas duas regiões, mas espalharam-se por outras Brasil afora e adentro. Um dos responsáveis por esse feito é o escritor Monteiro Lobato. Em 1918, ele, um paulista do interior do Estado, fez uma espécie de convocatória pelo jornal O Estado de S. Paulo: pediu que as crianças enviassem a ele o que sabiam sobre o Saci. Dessa "entrevista" com seus leitores, Lobato publicou, em 1921, o livro Saci-Pererê: um inquérito, que, mais tarde, viria a se transformar em uma de suas mais célebres obras, O Saci.

5) Villa-Lobos, Tom Jobim e outros músicos

O Saci foi homenageado em muitas músicas importantes da MPB e mesmo da tradição erudita. O maestro Heitor Villa-Lobos, por exemplo, escreveu uma marcha chamada "Saci" para a quinta parte de sua suíte Petizada. Tom Jobim canta o Matita Perê (ou matita-pereira) em Águas de Março, canção do álbum que leva o nome do moleque travesso do folclore nacional. E O vira, de João Ricardo e Luli, foi gravada pelos Secos e Molhados de Ney Matogrosso nos anos 7o falando nas criaturas da floresta, como bruxas e sacis. https://open.spotify.com/track/21zb9BMBrtu3CDUCILngWY?si=yh6noT0MSIiW-sseNoFMBA  

Livro premiado

Foi justamente esse personagem folclórico e tão brasileiro que inspirou o livro Quem matou o Saci, de Alexandre de Castro Gomes (texto) e Cris Alhadeff (ilustrações). A obra, selecionada para o PNLD 2018, ganhadora do selo Seleção Cátedra 10 em qualidade infantojuvenil e que alcançou o topo das vendas da Amazon no ano passado na categoria infanto-juvenis de mistério, conta a história de uma dupla de detetives que investiga o assassinato do Saci Perereira. Nessa investigação, narrada pelo diálogo de texto com imagem, muitos seres folclóricos e mitológicos vão sendo interrogados ao mesmo tempo em que a dupla de autores conta um pouco de suas histórias.

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Você tem alguma história de família -- de avós, bisavós, tataravós -- que envolva o Saci? Conta para a gente!  
Este texto foi publicado originalmente no Blog da Brinque e estava hospedado no site da Brinque-Book. A editora Brinque-Book foi integrada ao Grupo Companhia das Letras em outubro de 2020 e a migração deste conteúdo para dentro do Blog da Letrinhas tem como objetivo somar conhecimentos, unificar os blogs e fortalecer a produção de conteúdo sobre literatura infantil, leitura e formação de leitores.
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