Coleção Canoa: segunda leva repete o sucesso e foca no social

Literatura de qualidade a preços realmente acessíveis. Parece ficção? Pois não é. A Coleção Canoa, lançada pela Companhia das Letrinhas em 2022,  prova que é possível oferecer literatura bem orquestrada, sem deixar de lado a estética que caracteriza as produções da editora, com custos possíveis para uma grande parcela da população. 

Ilustração de Bárbara Quintino para Neguinha, sim!, de Renato Gama

Ilustração de Bárbara Quintino para Neguinha, sim!, de Renato Gama

A primeira leva da Coleção Canoa, lançada em junho de 2022, conta com quatro títulos em formato de cordel assinados pela musicista e contadora de histórias Mari Brigio. E já vendeu 96.000 exemplares, distribuídos para o Brasil todo. “No lançamento, na Bienal do Livro do ano passado, já assistimos com entusiasmo ao público encontrando os livros e comprando. Desde então, começamos a pensar em quais seriam os títulos que se seguiriam, em quais gêneros apostaríamos”, conta o editor da Companhia das Letrinhas, Antonio Castro. 

A segunda leva, que estreou nas prateleiras em setembro de 2023, também promete: já foram mais de 11.200 exemplares vendidos em tão pouco tempo. Três deles conquistaram  as cinco primeiras posições da lista de mais vendidos da Bienal do livro do Rio - incluindo o primeiro lugar, que ficou com Neguinha, sim!, um poema-musical da Renato Gama. 

A matemática de produzir obras de alta qualidade mantendo preços populares não é simples - cada livro é vendido a R$9,90. Foi preciso muito estudo e planejamento para viabilizar um projeto como este. "É desafiador em vários aspectos e exige a colaboração de todas as partes envolvidas na produção, desde os autores e ilustradores até a gráfica. Encontrar as histórias adequadas, autores dispostos a abraçar o desafio e os meios para tornar cada livro uma realidade não é tarefa fácil. No entanto, temos observado com satisfação como o mercado tem acolhido positivamente essas histórias, e como elas têm se espalhado por todo o Brasil, navegando como uma boa canoa", explica o editor.

 

A segunda viagem da Coleção Canoa: questões sociais ganham destaque

Desta vez, a Coleção Canoa apostou na brasilidade e deu oportunidade para que novos autores e artistas pudessem mostrar seu trabalho. “Para além de autores já consolidados no mercado — Janaina Tokitaka, José Carlos Lollo e Blandina Franco —, apresentamos à literatura infantil o Renato Gama, que é um artista premiado de São Paulo. Também tivemos o prazer de colaborar com duas ilustradoras talentosas, que estão conquistando espaço e prometem ter uma carreira brilhante pela frente: Flávia Borges e Letícia Moreno”, conta Castro.

São seis títulos novos no total. A vocação da primeira leva de subverter expectativas com humor está preservada nas quatro obras assinadas por Janaína Tokitaka, com ilustrações de ares pop elaboradas por Flávia Borges. Esses livros não deixam de ter um olhar social quando abordando de forma leve a inversão de papéis de gênero tradicionais .Mas esta segunda fornada vai além na abordagem de temas sociais, colocando em pauta o preconceito tanto com pessoas em situação de vulnerabilidade quanto em relação a questões raciais. “Fico contente em perceber que alcançamos uma rica diversidade de temas e estilos literários com esses livros, todos de alta qualidade e, sem dúvida, relevantes para o público infantil contemporâneo”, finaliza Castro.

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Conheça melhor os novos títulos da Coleção Canoa:

Ilustração de Flávia Borges para O Pedido da Fada Madrinha, de Janaina Tokitaka

Cinderela e o baile dela, O pedido da fada madrinha, O pequeno sereio e Bela, a fera, e Fernão, o belo de Janaina Tokitaka com ilustrações de Flávia Borges

O que aconteceria se os contos de fadas subvertessem a lógica tradicional em versões inusitadas - e mais atualizadas? Essa é a ideia das quatro histórias assinadas por Janaína Tokitaka. Nesta abordagem moderninha, o baile da Cinderela acontece - mas não do jeito que a gente espera - depois que a fada surge de uma abóbora espalhando glitter. Já a fada madrinha resolve fechar para balanço: está exausta e manda avisar que não quer mais ser incomodada. No fundo do mar, um sereio quer cantar, mas… morre de vergonha. E quando a fera é o sensível e a princesa é que não tem muita paciência? Imagine só o que acontece quando os papéis se invertem...

Capa de Aporofobia, de Blandinha Franco e José Carlos Lollo

Aporofobia, de Blandina Franco e José Carlos Lollo com participação do padre Júlio Lancellotti 

Você com certeza já ouviu - ou já pensou - frases como "esse pessoal suja as ruas", "são uns vagabundos" "se tem disposição para pedir esmola, por que não trabalham?". Esses discursos são diariamente despejados sobre pessoas vulneráveis, especialmente aquelas e situação de rua, e caraacterizam um tipo de preconceito bem específico: a aporofobia. A palavra é nova, mas o sentimento é antigo: aversão aos pobres. Nesta obra, é quase impossível não se colocar na pele da família vulnerável sobre a qual são despejados tantos insultos. Spoiler: a parceria entre a dupla de veteranos e o padre Júlio resultou em mais um livro Os pombos, que já está em pré-venda. 

Capa de Neguinha, sim!, de Renato Gama
 Neguinha, sim!, de Renato Gama com ilustrações de Bárbara Quintinho

Neste poema musicado, são invocados a ancestralidade e o orgulho de ser quem se é em cada detalhe: dos cabelos até a ponta do nariz. Com ritmo e ilustrações de impacto, a obra torna motivo de celebração elementos que são frequentemente alvo de preocnceito - como cabelo pixaim e o black power. A obra vem com QR para acessar a canção que deu origem ao livro - e vale tentar acompanhar a leitura cantando!

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