Ver o mundo com as crianças
26 de Março de 2018 às 10:33
Originalmente publicado no Blog da Brinque
Andamos com as crianças pela cidade a pé, de carro e de ônibus, ouvimos barulhos, vemos pessoas indo e vindo, pessoas trabalhando, grupos protestando, observamos prédios, praças, cartazes, placas... Tudo isso deve ser um convite para pensar sobre a vida que vivemos e sobre o porquê de as coisas serem como são
Esse exercício de compreensão é tarefa aberta, para a vida inteira, e começa quando nascemos. Desde muito pequenos, percebemos os ambientes em que vivemos, as relações de afeto em que estamos envolvidos e aprendemos, nas situações mais rotineiras, noções de justiça e de respeito – ou seu contrário. Andamos com as crianças pela cidade a pé, de carro e de ônibus, ouvimos barulhos, vemos pessoas indo e vindo, pessoas trabalhando, grupos protestando, observamos prédios, praças, cartazes, placas... Tudo isso deve ser um convite para pensar sobre a vida que vivemos e sobre o porquê de as coisas serem como são. Adultos e crianças, claro, perceberão as coisas por aspectos diferentes, a partir de seu repertório, mas o fundamental é que vejamos e que convidemos as crianças a ver também. Ver e prestar atenção no mundo ao redor são os primeiros passos para compreender. Não digo que devamos expor as crianças a problemas que lhes escapam, gerando medo e angústia nos pequenos. Mas sim que, desde cedo, apresentemos o mundo como ele é, com suas desigualdades e conflitos, para que noções de justiça e de igualdade possam ser elaboradas e apreendidas ao longo do tempo. Há muitos manuais que tentam nos explicar e, principalmente, às crianças o que é certo e errado, como devemos agir em situações diversas, como ser bons e justos. No entanto, apenas o esforço de indagação permanente do satus quo, aprendido e exercitado desde a infância, nos permite ver e interpretar criticamente o mundo. Do contrário, transferiremos para outros nossas escolhas mais íntimas, não entre o bem e o mal, mas sim sobre nossas posturas frente ao que tem sido naturalizado como inevitável por interesses que extrapolam e interditam as perspectivas de desenvolvimento humano. É esse mundo grande e complexo que precisamos mostrar às crianças. --- Fabíola Farias é graduada em Letras, mestre e doutoranda em Ciência da Informação pela UFMG. É leitora-votante da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e coordena a rede de bibliotecas públicas da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte.Este texto foi publicado originalmente no Blog da Brinque e estava hospedado no site da Brinque-Book. A editora Brinque-Book foi integrada ao Grupo Companhia das Letras em outubro de 2020 e a migração deste conteúdo para dentro do Blog da Letrinhas tem como objetivo somar conhecimentos, unificar os blogs e fortalecer a produção de conteúdo sobre literatura infantil, leitura e formação de leitores.