Convidamos o premiado autor Ilan Brenman para falar em vídeo sobre seu mais recente lançamento: o livro "As 14 Pérolas da Mitologia Grega", publicado pela Editora Escarlate.
Entre hoje e 27 de fevereiro, traremos para o nosso blog uma série de contos dessa coleção.
Fique de olho para não perder as novidades!
E agora, um conto do livro. Com vocês, Não conte vitória antes do tempo!
Ailha grega de Samos tinha fama de produzir excelentes vinhos. A melhor plantação de uvas ficava nas terras pertencentes ao soberano da ilha: o corajoso filho de Posídon, o rei Ergino.
Ergino era tão obcecado por suas plantações e seus vinhos que acompanhava de perto todo o trabalho dos escravos. Ele não queria um único erro no processo de plantação, cultivo, colheita e fabricação do vinho. A exigência do rei era tanta que os escravos ficavam exaustos ao fim de cada dia de trabalho.
Certo fim de dia, um escravo mais próximo ao rei não aguentou e disse ao soberano:
— O senhor não viverá o bastante para provar o vinho da próxima colheita!
O rei de Samos não acreditou no que ouvira. Ele estava prestes a castigar o escravo quando um emissário chegou, esbaforido, e deixou uma carta na mão de Ergino.
Os olhos do rei brilhavam ao ler a carta e, sem nem olhar para trás, pegou o escudo, a armadura e a espada, montou no seu cavalo e saiu em disparada.
Ergino fora convocado para participar de uma das mais famosas e épicas aventuras humanas, a busca do velocino de ouro. Navegou com outros cinquenta e quatro heróis lendários sob o comando de Jasão, que queria retomar o trono do seu pai, usurpado por Pélias.

O soberano de Samos teve um papel importante nessa aventura. Quando o timoneiro do navio dos argonautas (como eram chamados) morreu, foi ele que assumiu o comando da navegação e com muita coragem voltou da Cólquida com o velocino de ouro, laureado de triunfo e fama.
Entretanto, o que Ergino mais ansiava era o retorno ao saudoso e amado lar, pois queria rever suas plantações e suas uvas.
Assim que o rei pisou no palácio, largou a pouca bagagem que trazia e saiu correndo para ver as videiras. Ao chegar, ficou emocionado; aquele cheiro de terra e uvas maduras inebriava o corpo de Ergino.
Um dos escravos mais íntimos se aproximou e disse:
— Que bom que o senhor voltou, Majestade. O senhor quer experimentar o primeiro vinho saído da última colheita?
— Claro! É o que mais quero na vida!
O escravo deu-lhe uma taça de prata e despejou um líquido vermelho vivo nele. Porém, antes de beber, o rei se lembrou da profecia daquele outro escravo e mandou chamá-lo imediatamente.
— Quer dizer que não viverei o bastante para beber o vinho da próxima colheita?
— gritou o rei para o escravo que o havia amaldiçoado.
— Majestade, entre a taça e a sua boca ainda existe uma grande distância. O senhor ainda não bebeu o vinho — respondeu corajosamente o escravo.
Ergino ficou surpreso com a resposta do escravo, mas para pôr fim àquela bizarra conversa começou a levar a taça à boca, quando, de repente...
— Majestade, Majestade, corra! Um javali furioso está destruindo a plantação!
O soberano de Samos, ao ouvir os gritos de um dos servos, deixou a taça cair no chão, pegou uma lança e saiu em disparada para matar o animal que arruinava sua propriedade.
A luta com o javali foi feroz e o rei ficou mortalmente ferido. Antes de se esvair a última gota de vida daquele corpo, Ergino balbuciou:
“ — Entre a taça e a sua boca ainda existe uma grande distância.”
Este texto foi publicado originalmente no Blog da Brinque e estava hospedado no site da Brinque-Book. A editora Brinque-Book foi integrada ao Grupo Companhia das Letras em outubro de 2020 e a migração deste conteúdo para dentro do Blog da Letrinhas tem como objetivo somar conhecimentos, unificar os blogs e fortalecer a produção de conteúdo sobre literatura infantil, leitura e formação de leitores.
Júlia Moritz Schwarcz, publisher da Companhia das Letras, faz um balanço dos lançamentos deste ano e reforça a importância da literatura infantil como iniciação para o mundo dos livros
Livros não precisam ensinar algo. Mas podem. Se nos deixarmos tocar por histórias e personagens universos inteiros. Confira as lições que nossos livros podem trazer
A jornalista Renata Penzani trata de obras que têm o contraponto como ponto de cadência de histórias que acontecem na conjunção entre a palavra e a imagem