Livros sensíveis para falar de emigração e refúgio com as crianças

Originalmente publicado no Blog da Brinque
Esse sem dúvida não é um tema fácil: a emigração e o refúgio. Para se ter uma ideia, a Organização das Nações Unidas (ONU) já considera que essa seja a crise mais intensa do século. Em 2016, o volume total de pessoas na condição de refúgio passou dos 65 milhões, praticamente um quarto da população brasileira. Mesmo que a gente não queira que as crianças entrem em contato com uma realidade tão difícil de saber, sentir, explicar, elas estão cada vez mais conectadas, com cada vez mais acesso à informação.

As diferenças são aleatórias, circunstanciais, mas acabam definindo muitas vidas. Quem você seria se tivesse nascido em outro lugar? Imagem: Poderia, de Joana Raspall (texto) e Ignasi Blanch (ilustrações)

Por isso, vez ou outra, essas questões surgem. Nesses momentos, o melhor é não mentir e tentar ouvir primeiro as hipóteses das crianças sobre as angústias que trazem. Assim, conseguimos:
  • Facilitar que elas se expressem e
  • Evitar dizer coisas além do que elas podem / querem compreender.
Legal lembrar que as crianças se interessam pelo mundo à volta. E que compreender as injustiças pode ser um caminho bacana para estimular a sensibilidade e a empatia.

Obras sensíveis

Como esses temas estão situados muito mais na chave do sentimento, da empatia, que da razão -- qual lógica explicaria essas desigualdades, não é? --, a arte pode ser um poderoso espaço de comunicação. Por isso, trouxemos 3 livros que tocam nesse tema.

1) Poderia

Autora: Joana Raspall Ilustradora: Ignasi Blanch Tradutor: Alexandre Boide Temas: Empatia / Identidade / Solidariedade / Compaixão / Imigração / Preconceito Faixa Etária: A partir de 3 anos (leitura compartilhada) ou 7 anos (leitura independente) “Você teria sido criado de outra maneira, talvez melhor, talvez pior. (...) Você poderia ler contos e poemas, ou não ter livros nem conhecer as letras”. Como seria sentir o que o outro sente? Como seria viver o que outro vive? Numa sequência de versos intensos e singelos, a obra nos transporta para mundos distantes e para outros muito próximos, nos faz pensar sobre nós mesmos e a nossa relação com o outro. A cada virada de página, as palavras ganham força, e as cores vivas das ilustrações irradiam empatia e afeto. Dos pequenos aos mais velhos, com extrema leveza, o livro sensibiliza e encanta.

///

2) Mustafá

Autora / Ilustradora: Marie-Louise Gay Tradutora: Gilda de Aquino Temas: Solidariedade / Amizade / Empatia / Resiliência / Relacionamento Familiar / Imigração / Refugiados Faixa Etária: A partir de 3 anos (leitura compartilhada) / A partir de 7 anos (leitura independente) Mustafá conta a história de um garoto que teve de sair de seu país com a família e aos poucos descobre seu novo lar. A Lua, as estações, as flores, os insetos e a música desse lugar ora lhe lembram a sua antiga terra, ora o encantam pelo que têm de diferente do que ele já conhece. Mesmo com esse mundo novo a descobrir, Mustafá sente-se invisível ali onde as pessoas falam uma língua que ele não entende. Mas, um dia, uma menina, com um gesto simples, irá mostrar a ele que a amizade, a gentileza e o afeto superam as fronteiras entre línguas e lugares.

O desafio de deixar a vida para trás e emigrar para um outro país aqui ganha a delicadeza e a irreverência das tintas da autora canadense premiada. Imagem: Mustafá, de Marie-Louise Gay

///

3) Eu sou uma noz

Autora:Beatriz Osés Ilustrador: Jordi Sempere Temas: imigração / refugiados / solidariedade / convivência social / identidade / astúcia Faixa Etária: A partir de 8 anos Eu sou Omar e sou uma noz! Omar “cai” no quintal de uma advogada, vindo de um lugar longínquo, num barco-noz que naufragou. Sua tarefa: sobreviver e convencer um juiz de que, por ser uma noz, precisa ficar com Marinetti, uma advogada solitária e briguenta que deseja cuidar dele. Quando a realidade é absurda, um menino ser uma noz faz todo sentido. O discurso do narrador, os depoimentos de Omar e da vizinhança onde ele “caiu” nos conduzem, com suas múltiplas vozes, nesse conto de renascimento e imaginação. Sobrevivendo, Omar trouxe vida a uma comunidade e revelou, não apenas suas origens, mas também a de todos nós: quem nunca teve asas de borboleta, voou feito passarinho ou se sentiu um pêssego ou, quem sabe, nasceu castanha sem saber?

///

E você? Já conversou com as crianças sobre esses temas? Como foi? Conta para a gente!  
Este texto foi publicado originalmente no Blog da Brinque e estava hospedado no site da Brinque-Book. A editora Brinque-Book foi integrada ao Grupo Companhia das Letras em outubro de 2020 e a migração deste conteúdo para dentro do Blog da Letrinhas tem como objetivo somar conhecimentos, unificar os blogs e fortalecer a produção de conteúdo sobre literatura infantil, leitura e formação de leitores.
Acesse a Letrinhas nas redes sociais