Hora do sono: três dicas do pediatra Daniel Becker para a família toda dormir bem

Originalmente publicado no Blog da Brinque
Deixar chorar até dormir ou fazer cama compartilhada? Pode adormecer no peito? Se acordar na madrugada, levanto ou amamento deitada mesmo? E tudo bem continuar dormindo na cama dos pais mesmo mais crescidinho? O pediatra Daniel Becker conta que, atualmente, a maior fonte de angústia entre os recém-mães e recém-pais é justamente a privação do sono."Chega família no meu consultório com bebês de um ano e meio ou dois contando que, desde o nascimento, ninguém mais dormiu mais que quatro ou cinco horas por noite", lembra. Em geral, quando o assunto é sono, no entanto, mães e pais questionam apenas como fazer o bebê dormir. E o restante da família? Nesta conversa com Becker, idealizador da Pediatria Integral e curador do canal Criar e Crescer, ele propõe uma reflexão -- e boas dicas -- baseada em três "segredos" para criar as condições de uma boa noite de sono.

1- Sono é para a família

 

Ilustração de Marie-Louise Gay, publicada em Boa noite, Marcos!

"Minha proposta de sono para os bebês é que a família precisa dormir -- e o bebê faz parte da família. Ele precisa de cuidado, carinho, acolhimento, claro. Quanto menor, mais fundamental isso é. Mas cuidar dele não pode inviabilizar a vida dos pais. Uma mãe precisa dormir, até para cuidar do filho. Se ela dorme três horas por noite é dificil dar conta de um bebê durante o dia”. Becker recomenda uma conversa com o pediatra e até uma consultoria específica sobre o tema com especialistas para que a família identifique qual é o seu jeito, as necessidades do bebê e quais são as orientações que podem ser aplicadas ao grupo ou não. Há quem recomende "treinar" o bebê, deixando chorar sozinho até dormir. De outro lado, há quem diga que certo mesmo é colocar em cama compartilhada até que o pequeno não queira mais dormir com os pais. Daniel comenta que esses manuais podem ser muito autoritários (donos da verdade absoluta) e deterministas (como se o destino de seu filho até a vida adulta dependesse de um só aspecto da vida dele - o sono). No meio desses extremos, há meios-termos mais razoáveis e de bom-senso. O maior erro que se pode cometer é  "encaixar" o filho ou filha num desses manuais de como dormir (ou como comer ou como educar etc). "Seu filho não cabe num manual, nem a sua família. É preciso encontrar o caminho que se encaixe na criança real, na família real. Jamais o contrário". Ele acrescenta: “Talvez o mais importante para poder lidar com o bebê que dorme mal é uma boa rede de apoio, que permita que a mãe possa descansar durante o dia se as noites são muito difíceis”. Notas importantes: Deixar o bebê chorando até dormir é violência: há meios mais eficazes de se promover um sono autônomo, diz Becker. E, ainda: antes dos seis meses de vida, as sociedades de pediatria em geral recomendam que o bebê não durma em cama compartilhada. Para ter o pequeno pertinho e mais seguro, uma boa saída são os berços acoplados à cama do casal, recomenda Becker.

2- Bons hábitos de sono podem ser sempre trabalhados

 

Ilustração de Sophy Henn no livro A hora de dormir com Teo

Seja qual for o caminho escolhido pela família, Becker destaca que o mais importante é o desenvolvimento de bons hábitos. É preciso que a família crie uma rotina adequada para que o novo integrante adquira hábitos saudáveis em torno do sono e condições de dormir autonomamente. Estabelecer um ritual noturno é um ótimo começo: às 18/19 hs, por exemplo, é hora de diminuir a luz, fazer uma shantala com óleo, oferecer uma mamada e levar para o banho -- assim o bebê participa desse momento de higiene mais bem humorado. Depois, no quarto escurinho, mais um pouco de peito e um ambiente calmo, quieto e bem ventilado. Refrescar o quarto e não vestir demais o bebê também é bom. Como bebês e crianças têm ciclos de sono mais curtos, é comum que acordem várias vezes ao longo da noite. Para que consigam voltar a adormecer sozinhos, é preciso que os pais os ensinem a dormir autonomamente, sem precisar da presença do adulto. "É uma delícia dormir no peito ou no colo. Eu adormeci muito meus filhos no colo. Especialmente quando bebezinhos, é no colo mesmo que adormecem. Mas, conforme crescem um pouco, a gente pode começar a ensinar essa habilidade, importante para a vida", recomenda o pediatra. Deixando chorar? De jeito nenhum! "Sou radicalmente contra! Há meios muito mais amorosos e eficazes de se fazer isso", comenta Becker. Em seguida, ele dá algumas dicas para isso: a partir dos 6 meses, já é possível começar esse processo, colocando o bebê no berço ainda sem adormecer. "Dê o peito, nine e quando a criança estiver naquele ponto intermediário entre a vigília e o sono, coloque-a no berço". Se o bebê chorar, pegue no colo, acalme e, novamente, devolva. Repita o processo com calma, suavidade, amorosidade. Se a criança não conseguir adormecer, tudo bem. Interrompa o processo, adormeça-a no colo ou deitando com ela (como for o hábito da família) e retome as tentativas no dia seguinte. "Assim, gradativamente e sem causar sofrimento, você pode ir mostrando à sua filha ou ao seu filho que ele é capaz de dormir sozinho", avalia Becker.

3-O sono começa durante o dia

 

Ilustração de Sophy Henn no livro A hora de dormir com Teo

Um mito muito difundido é o de que o bebê deve dormir pouco ao longo do dia para estar com sono à noite. É muito pelo contrário. Quanto melhor for a qualidade da soneca diurna, tanto melhor será a noite de pequeninas e pequeninos. Becker recomenda um dia com sonecas, sim, mas preferencialmente em ambientes claros, com bastante luz de iluminação natural. Aliás, é bom oferecer pelo menos duas a três horas de luz do sol por dia, ao ar livre, se possível em contato com a natureza, cuja diversidade dá conta de proporcionar muitos aprendizados e brincadeiras aos bebês. Um bebê que viveu um dia rico em atividades e livre para brincar -- sem estímulos artificiais, sem telas -- e em meio o mais natural possível, com luz natural, estará cansado o suficiente à noite para adormecer de modo natural, tranquilo e saudável.

Um cama para muitos

 

Ilustração de Nick Bland em O urso sonolento

Ah, mas se o bebê precisa aprender a dormir sozinhos, compartilhar cama com ele e com crianças maiores é ruim? Não, pelo contrário! Se a família gosta e todo mundo dorme bem juntinho, Becker não vê o menor problema em compartilhar a cama com os filhos. "É a coisa mais gostosa do mundo!” Se seu filho maiorzinho acorda de madrugada e vem pra sua cama - e isso não atrapalha o sono de ninguém -, abraça a cria e aproveita.  
Este texto foi publicado originalmente no Blog da Brinque e estava hospedado no site da Brinque-Book. A editora Brinque-Book foi integrada ao Grupo Companhia das Letras em outubro de 2020 e a migração deste conteúdo para dentro do Blog da Letrinhas tem como objetivo somar conhecimentos, unificar os blogs e fortalecer a produção de conteúdo sobre literatura infantil, leitura e formação de leitores.
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