Memórias de um lugar no fim do mundo

 

Por Ricardo Azevedo

 

Nossa família tinha um sítio em Itaquaquecetuba, pertinho de São Paulo, comprado por meu pai em 1951. Passávamos lá quase todos os fins de semana e também as férias.

 

 

Nos primeiros anos, o lugar era um fim de mundo, zona rural mesmo, habitada por famílias de camponeses que sobreviviam da própria roça e de pequenos serviços, algumas poucas famílias de japoneses plantadores de verduras, muitos nem falavam português, e uma ou outra olaria. Havia ainda a venda do seu Albertinho e só. O resto era mato, um matagal danado, cheio de cobras e aranhas, tatus, veados, porcos-espinhos, preguiças, cotias, pacas e preás, sem falar na infinidade de pássaros e também de carrapatos. Isso a cerca de 40 km de São Paulo!

Para chegar ao sítio, depois de andar pela Dutra, pegávamos a estradinha do Corredor, muito estreita, uma baita buraqueira cercada de mato por todos os lados. Quando chovia, a estrada alagava e ficava intransitável. Luz elétrica por ali, nem pensar. Durante anos, a iluminação do sítio foi feita com lamparinas e lampiões. A água era tirada de um poço. O fogão, à lenha.

O contraste entre a vida na cidade e a vida mais perto da natureza, quase no meio do mato, foi para mim muito gostoso, enriquecedor e divertido. Nessa foto por exemplo, se não me falha a memória, estou metido em altas e profundas conversações sobre a vida e o mundo com dois bons amigos que fiz por lá.

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Ricardo Azevedo é escritor, ilustrador, compositor e pesquisador paulista, nascido em 1949, é autor de vários livros para crianças e jovens. Ministra palestras e publica estudos e artigos a respeito de temas como discurso popular, literatura e poesia, problemas do uso da literatura na escola, cultura popular, música popular brasileira e questões relativas à ilustração de livros.

 

 

 

 

 

 

 

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