Jornada Pedagógica: práticas leitoras para o ensino médio

Diversidade, gêneros, práticas, multiculturalidade, leitores, sentidos, clássicos. Esses foram apenas alguns dos temas que a semana de Jornada Pedagógica, promovida pela Companhia na Educação em parceria com o Instituto Avisa Lá, trouxe aos participantes. Foram dias de muito compartilhamento de informações, trocas e grandes reflexões acerca do papel da escola e dos educadores na formação dos leitores das mais diferentes etapas do desenvolvimento.

Para finalizar, o último dia de discussões teve como foco os alunos e as práticas voltadas ao ensino médio. Entre as discussões, estiveram presentes a leitura literária segundo a BNCC, modelos de práticas para este público e o papel dos clubes de leitura na formação do leitor.

Marisa Balthasar trouxe importantes reflexões sobre as práticas escolares na formação de leitores do ensino médio

 

Ensino médio e literatura: habilidade de um jovem leitor

O dia começou com a doutora em Letras e autora de materiais didáticos Marisa Balthasar trazendo importantes reflexões sobre as práticas escolares na formação de leitores do ensino médio. Entre elas, estão as críticas aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que, segundo a especialista, trazem a literatura para um lugar mais marginal e acabam colocando diferentes gêneros textuais na mesma régua, simplificando a questão da fruição literária. “Não dá pra tratar a fruição como algo de prazer imediato. É fundamental que a escola promova a experimentação de novos pactos literários, de propostas de elaboração estética que os estudantes ainda não tenham em seus repertórios, e, por isso, o estranhamento é fundamental para que se possa significar o sentido da obra”, disse.

Entre as reflexões propostas também estiveram o compromisso que a escola tem de ampliar os repertórios dos alunos e, assim, permitir que novas possibilidades sejam descobertas. Como provocação, a mesa trouxe a condição em que o aluno está exposto às práticas de literatura e leitura. Segundo Marisa, é preciso avaliar se as aulas do ensino médio não estão mais dedicadas em colocar o aluno em contato com informações da literatura, os “ismos”, como ela afirmou, ou seja, escolas e vertentes literárias que com o processo de leitura em si. “Muitas vezes, o aluno nunca nem teve contato com a leitura e precisa identificar a que ‘ismo’ determinado trecho de uma obra clássica está se referindo”, disse ela. Esse processo acaba deixando o texto literário em segundo plano. 

Confira o vídeo do bate-papo com Marisa Balthasar

Ainda, Marisa lembrou do risco do uso de simulacros no ensino médio como consequência de um foco acentuado nos vestibulares, ou seja, não se oferece contato com a literatura, mas sim com resumos de obras e outros recursos que somente afastam o jovem da sua formação de leitor. “Existe um movimento de generalização. Se fala muito do professor, da escola, das práticas de leitura e há pouco interesse de pesquisa em relação à escola. O professor não tem tempo para isso e não há um plano de carreira para que os educadores trabalhem isso”, afirmou.

Para finalizar, Marisa trouxe algumas expectativas e direitos de aprendizagens que as escolas precisam garantir aos alunos do ensino médio. Entre elas estão a importância de assumir que o estudante é capaz de atribuir sentido a um texto, a relação que os jovens têm com os eventos de letramento crítico no espaço em que vivem – saraus, slams, exposições, etc. -, a construção de relações intertextuais e interdiscursivas não somente entre gêneros, mas também entre outros processos artísticos, e ainda a capacidade do jovem de selecionar obras do repertório artístico literário segundo suas predileções, ou seja, fazer escolhas qualificadas. 

Última mesa sobre práticas de leitura teve como convidados a poeta Débora Garcia, o bibliotecário José Maria Júnior e o professor João Jonas Sobral

 

Práticas de leitura na escola – Ensino médio

O último dia de práticas de leitura contou com a participação de Débora Garcia, poeta e artista das palavras, que trouxe a experiência de práticas de leitura fora da escola com jovens como os saraus periféricos, que acabam auxiliando na formação de leitores e que hoje já estão entrando na escola como processos fundamentais da fruição literária. Também o bibliotecário e coordenador de biblioteca da Escola Sesc de Ensino Médio, José Maria Junior, falou sobre movimentos que mobilizam o jovem na área da literatura e sobre a importância da parceria que as bibliotecas e a leitura devem ter com os professores. José Maria falou ainda sobre o papel do espaço da biblioteca e da existência de um profissional qualificado e que realize a mediação com os jovens. Para finalizar, o professor e autor de livros didáticos João Jonas Sobral trouxe alguns recortes de atividades realizadas em sala de aula. João lançou reflexões sobre o leitor habitual e o leitor hábil e, por meio de gêneros textuais diferentes, falou sobre o tipo de leitor que a escola deve formar. Veja mais:

Clubes de leitura e formação leitora 

A última mesa do dia, que se dedicou a discutir os clubes de leitura e a importância dessa prática na formação de leitores, contou com a participação de Estevão Firmino, professor da rede pública de São Paulo, Julia Gomes, que é estudante de ensino médio e participa do projeto Literatura e direitos humanos: para ler, ver e contar, e Mara Dias, mestre em Educação e pesquisadora na área de jovens leitores. A mesa falou sobre importância dessa prática compartilhada de leitura e sobre como esse movimento favorece a participação de jovens, despertando o interesse pela leitura e o envolvimento do jovem com a literatura. Confira como foi:

Confira a partir de 1:58:00

 

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