Dia dos Pais em dobro!

 

 “Um livro que toca no cotidiano daqueles que se permitem a liberdade de amar. De forma delicada, Olivia é apresentada como uma criança feliz por ser amada e que precisa enfrentar os dissabores da vida adulta que lhe tiram da convivência com seus pais, os amigos que ignoram outras possibilidades de família e as idealizações do que seria uma mãe.” É assim que Gilberto Soares, geógrafo e professor paulistano, descreve o livro Olívia tem dois papais. Para ele, a autora Márcia Leite abre caminho para conversar sobre amor, estereótipos e gênero sem rótulos.

Gilberto e seu marido Cristiano, que estão juntos há 17 anos, são pais há 6. Seus filhos, Claudio, 12 anos, e Pedro Henrique, 7 anos, também se identificaram  com a narrativa da pequena Olivia, protagonista da história, tanto nas questões descritas no livro quanto na sutileza da família descrita na obra. Olívia tem dois papais “foi uma experiência radical que mudou nossas vidas”, diz o geógrafo e professor paulistano. A obra traz um dia da vida de Olívia, filha adotiva de Raul e Luís, uma menina curiosa e alegre, cheia de inquietações abordadas pela autora.

 

 

A adoção por parte de casais homossexuais ou a questão das famílias homoafetivas não são a temática do livro. Essa realidade, no entanto, é abordada de maneira delicada ao longo da narrativa, em meio aos diálogos da menina e seus pais. Olívia se mostra encantada pelos dois pais, apesar de questionar alguns itens comumente atribuídos ao gênero feminino, como maquiagens, cozinhar ou brincar de boneca, em pontos apresentados na história de forma sutil e natural. Tanto na família fictícia dos papais Raul e Luís, quanto na família real dos papais Gilberto e Cristiano, a relação entre pais e filhos é baseada no respeito, admiração e afeto.

“Lemos o livro em família e vi a identificação deles pelos olhares de cumplicidade que trocavam, mesmo que o mais velho, já adolescente, desse uma resposta típica à pergunta do que achou do livro: ‘Legal’. O mais novo segue o seu herói, o irmão mais velho, e acrescenta que ‘nossa família é diferente, porque são dois filhos e meninos’”, comenta o educador.

Olívia, assim como muitas crianças filhas de famílias homoafetivas, lida com o preconceito de outras crianças na escola. A protagonista considera injusto seu colega de classe, Lucas, provocá-la por não ter uma mãe. Seu pai Luís ouviu a filha contar sobre o caso e, enquanto fazia-lhe sanduíches, disse sabiamente: “Cada família é de um jeito… E o Lucas só conhece um tipo de família”.

Na família de João Pedro Schonarth e Bruno Banzato, também houve a preocupação com o bem-estar de Daniel, 2 anos, filho adotivo do casal. Sobre a escolha da escola do menino, João Pedro conta: “Nossa preocupação foi abrir o jogo e dizer: ‘Olha, nós somos uma família homoafetiva, nós temos essa característica e nós queremos saber qual é a observação, qual é o trabalho de vocês para falar sobre as diversas famílias que há na sociedade’”. Entre as opções de Curitiba, onde moram, surgiu uma que se destacou e trouxe segurança para os pais, por acolherem famílias diversas, tradicional, homoafetiva e mosaico (em que os pais se separam e as crianças têm novos irmãos, madrasta, padrasto).

 

 

O casal relata que já sofreu com o preconceito. Na rua para onde se mudariam em 2017, foram distribuídos panfletos com fotos deles e um texto homofóbico. Superado o episódio, seguem na busca de tornar o ambiente seguro para seu filho. “Por enquanto ele tem 2 anos e não sentiu outras questões, mas nossa ideia é ter um acompanhamento bem próximo da escola e das outras crianças, para que tenham também essa compreensão de que o Daniel tem uma família diferente, mas isso não significa que ele é menos ou mais que ninguém. É simplesmente diferente”, explica o jornalista e pai João Pedro.

De acordo com o pai de Daniel, é muito importante que famílias com as mais diversas configurações apareçam nos livros, nas propagandas, nas novelas e nos demais produtos culturais por serem oportunidades para discutir essa questão. “É tentar mostrar para a sociedade que essa família não tradicional é tão família quanto as outras, com todas as mesmas preocupações. Só muda a configuração, mas de resto somos todos iguais, todos com as mesmas preocupações: todo mundo tem que comer, todo mundo tem que se preocupar com horário da escola, se está bem, se está aprendendo. Isso não muda para nenhuma família que esteja realmente interessada e dedicada em educar seu filho”, completa.

A semana segue com um tom mais afetivo e de celebração, já que o próximo domingo será o primeiro Dia dos Pais da família de Schonarth e Banzato. Depois de três anos e meio na fila de adoção, o filho Daniel chegou em janeiro trazendo alegria aos dois. Passaram juntos o Dia das Mães e perceberam que esse é um assunto que deverá ser trabalhado no futuro para fortalecer os laços familiares: “No Dia das Mães, ele não vai ter uma mãe para celebrar, mas tem duas vovós, que são as mães dos papais dele, e, no Dia dos Pais, ele vai poder comemorar em dobro”.

 

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