Das lonas do picadeiro ao centro da cidade

No circo, os limites e as referências sobre o que é centro e o que é borda não são os mesmos dos encontrados em outras artes. Isso porque a linguagem circense foi cada vez mais afastada das grandes cidades, florescendo nos interiores e nas periferias. O fenômeno repete-se em perspectiva global, em que o Brasil é considerado à margem: aqui não há universidades dedicadas ao circo, só escolas de nível técnico. O centro: Canadá, França, Bélgica, Suécia, no Ocidente, e China, Rússia e a Austrália, no Oriente. Quem quer se profissionalizar visita esses países. Como esses intercâmbios culturais contribuem para o tipo de circo que criamos?

 

 

Com essas perguntas em vista, o Sesc São Paulo lança o 4o Festival Internacional Sesc de Circo, que acontece entre os dias 9 e 18 de junho, em 13 de suas unidades. Serão 13 atrações internacionais e 18 nacionais, apresentando 130 sessões. Além disso, serão oferecidos diversos cursos, mesas, encontros e laboratórios, que propõem a reflexão sobre a linguagem circense, com formações voltadas à crítica, à prática do palhaço, à fotografia, à criação e à trilha sonora, por exemplo.

 

Espetáculo A sanfonástica mulher lona; Foto Tiago Lima

 

A ideia é trazer ao país grupos de teatro híbridos – formados por brasileiros e também por estrangeiros –, para discutir como a produção circense varia de acordo com o local onde é originada. “Para a gente, interessou saber como essas diferentes escolas do mundo se relacionam com a linguagem, essas de formação, obviamente, e quanto que dessa arte que esta sendo produzida fora do Brasil, inclusive, o quanto que ela resvala dentro dos espetáculos nacionais”, explica o coordenador do festival, Lucas Molina.

Serão quatro os espetáculos que trazem essas misturas: Mito – Jogos de recusa, com artistas brasileiros e canadenses; Dois, feito por brasileiros e finlandeses; Tempo e(m) movimento, trabalhado com alemães; e Apesar, desenvolvido com franceses. Neles, as fronteiras são questionadas: dos países, das culturas, das linguagens, já que os espetáculos de circo são imersos em números da dança, do teatro, da música. Todos os espetáculos internacionais do festival são inéditos e, entre eles, há três estreias mundiais: Mito – Jogos de recusaTempo e(m) movimento Fritos refritos (Argentina).

 

Espetáculo Menu del giorno; Foto Max D'Alessandro

 

Na programação, há também oito estreias nacionais. Piccola memória, de São Paulo, reúne artistas da área circense para colocar em cena uma autobiografia ficcional de uma família do picadeiro no início dos anos 1900. Telhado de ninguém traz o cinema mudo como mote para o primeiro espetáculo infantil da Companhia do Polvo. Outro destaque é Balbúrdia, que apresenta as experiências profissionais e pessoais dos protagonistas misturando técnicas tradicionais e contemporâneas do circo. 

Além disso, a programação é democrática – os preços para acompanhar os espetáculos vão desde atrações gratuitas e em espaços abertos até o valor de R$ 40 a inteira. Há programação para todas as idades, desde bebês de colo, com HumAnimaL, até idosos. A intenção é de propagar ainda mais a arte do circo no Estado de São Paulo, que vem debatendo a sua identidade –um dos grandes temas discutidos no meio, segundo Molina.

 

Trailer de HumAnimaL

 

O circo não é apenas a lona, não mais. Vai muito além. Circo, hoje, é linguagem, modo de vida. Inclusive os circos midiáticos estão incluídos. “Por sorte não temos uma distinção muito grande do que seria o circo tradicional ou de lona e o circo contemporâneo no Brasil. Aqui, é muito comum esses artistas de trupes e companhias irem para os circos itinerantes, e vice-versa.” Entre os temas mais debatidos no meio estão a questão de circulação e orçamento, e a segurança dos artistas, e, consequentemente, do público, explica.

 

Trailer de Knee Deep/Pisando em ovos

 

Você pode conferir a programação completa, com todos os espetáculos e cursos, além de webdocumentários, no site do Festival Internacional Sesc de Circo.

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